Ela
costuma andar por Porto Alegre. Só assistia filmes no mesmo cinema de calçada.
Gosta do porto do sol e de ver as pessoas caminhando apressadamente. A garota
de dezessete anos já tinha uma certa independência, um pouco de liberdade e a
tal sonhada confiança dos pais. Ela gostava muito das fotografias que fazia
durante as tantas tarde na praça da Matriz. Naquelas fotos ela tinha um
registro da humanidade, do sorriso das pessoas, dos prédios, sem contar as
milhares de fotos que tirava daquele teatro. Teatro São Pedro. Um grande amor
que ela tinha...
Numa
tarde de primavera ela vestiu um vestido jeans azul tomara que caia, calçou um
sapatilha neutra, separou o celular, a carteira e as chaves de casa, os colocou
dentro de uma pequena bolsa tiracolo e dessa maneira saiu de casa sem consultar
seus pais que estavam fora. Saiu porta a fora apenas deixando em cima da mesa
um bilhete que dizia: “Fui a Porto Alegre, vou chegar em casa lá pelas 18h. Amo
vocês.”
Uma
garota incrível. Incrivelmente doce. Incrivelmente inteligente. Incrivelmente
adorável. Incrivelmente inabalável. Ela era encantadora. Apesar de todas essas
qualidades ela era uma garota extremamente normal fisicamente. Os olhos era do
castanho mais comum possível – herança genética de seu pai – o cabelo também
castanho, com algumas mechas claras, era comprido e liso. Não tinha um corpo
que chamasse atenção. Não era alta. Era fluente na língua da poesia, tendo um
certo problema com as línguas estrangeiras.
Já
passava das três horas quando chegou na “Cidade Capital”. Sentia-se segura
naquele solo. Desembarcou do trem, desceu as escadas e, então, chegou na rua.
Respirou profundamente, apaixonadamente e seguiu caminhando até chegar em seu
destino final.
Como
de costume sentou-se na escada da praça e ficou admirando o movimento. As
pessoas caminhavam, umas mais rápidas que as outras. Ela amava a maneira como
as coisas aconteciam. Achava mágico poder assistir à vida. Passado alguns
minutos lembrou-se que não havia trazido sua maquina fotográfica, abriu a bolsa
e foi ter certeza do fato. Felizmente ela nunca tirava aquela relíquia de perto.
Fotografou mais uma vez o tão amado teatro. Uma leve brisa cruzou os ares. O
vento jogou alguns fios de seu cabelo em seu rosto enquanto ela fechava
suavemente os olhos. O sorriso mais lindo tomou conta de seu rosto como se ela
estivesse apaixonada pelo vento que soprava os quatro cantos da cidade. Abriu
os olhos e continuou fotografando aquele lugar.
Depois
de algum tempo ela levantou de onde estava sentada e caminhou até a entrada do
teatro mais encantador que conhecia. Abriu a porta que a convidava a entrar e
invadiu o local. Seus olhos brilhavam compulsivamente. Como tantas vezes já
tinha feito observou cada detalhe daquele espaço mágico que a rodeava. Caminhou
um pouco e parou para observar a miniatura do Teatro que havia ali dentro. Ela
conhecia cada detalhe daquela arquitetura, mesmo assim gostava de admirar. Um
dos seguranças do local se aproximou.
-
Posso ajudá-la?
Um
choque de olhares aconteceu.
-
Você é novo aqui, não?
-
Sou sim. Posso ajudá-la?
-
Como é seu nome?
-
Gustavo.
-
Me chamo Aline.
-
Posso ajudá-la?
-
Pelo jeito você gosta mesmo de ajudar! – um riso simples lhe tomou os lábios –
não se preocupe, o pessoal já está acostumado comigo, eu venho seguido aqui.
-
Desculpe o incômodo. Se precisar de alguma coisa pode me chamar.
-
Preciso sim. Nós já nos conhecemos?
-
Creio que não.
-
Engraçado, tive a sensação de que a gente já se conhecia.
-
Talvez esteja me confundindo com alguém. Eu tenho um rosto comum.
E
realmente tinha mesmo. Tinha os traços do rosto igual ao de muitos rapazes. Ele
usava um corte de cabelo tipicamente masculino, tinha cabelos pretos como a
escuridão e uma altura de 1,88 no máximo, mas havia algo que o diferenciava,
era a cor de seus olhos. Ela jamais havia visto um azul tão bonito em toda sua
vida, nem mesmo os atores dos filme tinha aquela cor e aquele brilho nos olhos.
Eles não se conheciam, mas ela sentia como se já tivesse o visto antes.
-
Se precisar de alguma coisa eu estou ali.
Ele
virou-se e caminhou até onde disse que estaria. “Cara estranho esse.” Esses
foram seus pensamentos, mas no fundo o que ela queria mesmo era conhecê-lo.
Rapidamente ela inventou uma história.
-
Na verdade eu preciso da sua ajuda. Eu sou escritora e estou fazendo um
trabalho sobre este lugar. Pelo o que os seguranças me falaram o seu turno acaba
em quinze minutos, será que poderíamos fazer uma entrevista?
-
O quê? Eu não entendi direito.
-
É apenas uma entrevista... eu vou esperar lá fora.
-
Não! Espera. É que...
E
ela saiu caminhando. Passou pela porta e ficou esperando. O seu maior medo era
que ele não aparecesse. Vinte minutos se passaram e quando ela já estava preste
a ir embora, ele apareceu na porta, agora vestido normalmente, procurando por
ela.
-
Eu achei que você não viria...
-
Então, o que a senhorita precisa saber?
-
Esquece a parte do “senhorita”, somos pessoas normais agora.
-
Acho que não entendi.
-
Quantos anos você tem?
- Vinte e um.
-
E você ficaria bravo se eu disse que eu menti, que eu não sou escritora coisa
nenhuma, que eu tenho apenas dezessete anos e que eu só falei aquilo porque eu
queria te conhecer?
-
Claro que não. – e um leve sorriso de surpresa surgiu em seu rosto.
-
Ai, que ótimo! Vai pra onde agora?
-
Pra casa.
-
Vai como?
-
De trem, e você?
-
Também...
-
Por que não vamos juntos?
-
Ótima ideia.
Naquela
tarde, Porto Alegre foi mais do que ela espera. Como ela dizia: as vezes o
destino te empurra paras as coisas, você apenas tem que confiar. Ela sabia que
o que tinha feito era loucura, mas mesmo assim arriscou, pois sabia que o seu
coração jamais a enganaria.
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