sábado, 15 de setembro de 2012

Um Amor Feito de Mar.

            Mais uma vez me refugio em tuas águas, na esperança de encontrar conforto para meu pranto. O sal das minhas lágrimas agora é o que te faz mais salgado, e a tristeza de meu peito é o que te faz mais raivoso. Mergulho nas tuas profundezas e deixo que o teu balanço me guie. Sob tuas ondas prendo a respiração para que vejas que sou somente tua. Não sinto medo, apenas confio. Confio, como sempre confiei. E mesmo vendo que esta distância nos separa vou o mais longe que posso para poder ver teus olhos e me encontrar, porque sei que essa calma que eu sinto vem do som que tu me permites escutar. Um som que pulsa, que explode, um som que me doma, me tranquiliza, e que me faz te amar cada vez mais.
            A areia da tua praia é a mais branca. E o teu sol, mesmo coberto de nuvens, mesmo no frio, mesmo nas chuvas, o que mais brilha. E é a tua luz que me faz enxergar com clareza o mundo lá fora. A areia fina, os pés descalços e o coração na mão, são tudo o que tenho quando estou ao teu lado. O pensamento é solto no ar. Nada mais me angustia. Ao olhar para trás vejo meus passos sumindo, vejo que você os recolhe com paixão e os guarda em teus bancos de areia.
            Deitada diante de ti vejo teu olhar se juntar ao meu. Numa mistura de êxtase e delírio adormeço sem fazer esforço enquanto ouço o som de tuas ondas quebrando a beira mar. E mais uma vez nossa canção vem em minha mente, toma conta de meu ser enquanto as lembranças de nosso passado e presente se misturam dentro de mim e, pouco a pouco, vão se transformando em sonhos de uma noite de verão.
            “Abra os olhos”, é o que ouço sua voz me dizer. A noite chegou. E você continuou aí todo esse tempo, cuidando de mim e me olhando. Eu preciso voltar para casa, mas as forças já se foram e você é o único que me torna mais forte.
            Me desfaço das roupas, e em meio a praia deserta e o vento gelado da noite, mergulho em tuas águas que fazem que meu corpo se arrepie por inteiro. Mais uma vez vejo que minhas lágrimas encostam em ti, e você, sem reclamar você as enxuga, de novo e de novo. Sinto que meu peito vai ficando mais leve e que a tua suavidade me acalma.
            Os cabelos molhados, o frio, o vento, e agora a chuva... Passo a passo vamos nos separando, mas mesmo assim sinto que preciso ficar e te olhar mais um pouco. Até ter certeza de que já estou forte o suficiente para encarar a realidade.
            Visto-me.
            Molhada e com frio, sento na areia que me acolhe com o mesmo carinho que teus abraços me envolvem. A chuva da meia noite é a mais fria de todo o verão. Hoje é nosso último dia juntos. Tudo o que eu queria era poder não dizer adeus... mas nós dois sabemos que isso é quase impossível!
            Tento de todas as maneiras deixar de olhar no teu horizonte onde o sol nasce, tento levantar e ir embora, mas algo em você me prende. Já que é impraticável levar-te junto a mim, retiro do bolso de meu casaco um frasco e na primeira onda que vem beijar meus pés encho o pequeno vidro com as tuas águas. Para que mesmo na distância possamos estar juntos.
            Eu prometo voltar...
           



Para Marlon de Almeida 
Autor de "Prosa do Mar".

Nenhum comentário:

Postar um comentário