quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Solaris - Parte III: O Outro Lado



            E ao chegar do outro lado, Terra Norte me esperava com emoção. Alex já estava lá. Abri meus olhos lentamente e os raios de sol penetraram em minhas pupilas com uma intensidade absurda – nada que cegasse, mas uma luz que me deixava maravilhada – as nuvem eram como algodão. Os sentimentos ainda estavam aguçados por causa da passagem. O cheiro de grama cortada se fez presente. Estava calor e ao levantar a primeira coisa a fazer foi retirar o casaco, logo após retirei os sapatos. E alguns metros foram percorridos por meus pés descalços. O cheiro da grama se fazia presente em toda a caminhada. As árvores eram de um verde muito intenso, realmente eu nunca tinha visto um lugar tão extraordinário como aquele. O florir dos campos me surpreendeu. Os pássaros planavam no ar ao mesmo tempo e com a mesma delicadeza que cantavam. Tudo foi suave até o momento em que ouvi aquela voz que quebrou o silêncio do ambiente.

            - Olá!

            O susto foi inevitável. Virei de costas e ao bater meus olhos nos olhos de quem havia me assustado reconheci tal azul radiante. Nem uma vez na vida eu tinha encontrado olhos como os de Alex. Ele foi delicado e me convidou para sentar um pouco, eu estava fraca, pois para abrir o portal grande parte da minha energia foi usada para que ele pudesse voltar, e eu também havia usado o pouco da energia que me sobrara para o meu transporte no espaço.
           
            - Eu achei que você não viesse! – Ele disse isso como se a minha chegada fosse uma coisa muito esperada por todos.
            - Eu também achei isso...
            - Aqui em Solaris a expectativa de que você viesse era grande...
            - Como assim?
            - Era muito importante para nós que você chegasse!
            - Continuo não entendendo.
            - Deixemos esse assunto para a Rainha. Mas me diga, por que você resolveu vir?
            - Era a única maneira de saber se era real ou não essa maluquice em que eu me meti! – dei uma leve pausa, então ousei perguntar – Alex, pode me dizer uma coisa?
            - Mas é claro...
            - Quanto tempo dura a passagem?
            - Em média uns cinco ou seis segundos. Por quê?
            - Nada não. Curiosidade...

            Alex percebeu que não era apenas isso, pois ao terminar a frase levei o olhar para baixo e ficou visivelmente estampado em meu rosto que eu não estava bem e que aquela passagem tinha realmente significado algo para mim.

            - O que você sentiu?
            - Eu não quero falar sobre isso...
            - Não se preocupe, pode me contar o que esta sentindo.
            - Já disse que não quero falar sobre isso, ou você não ouviu?
            - Tudo bem... – Alex se levantou – Já está se sentindo melhor?
            - Me desculpa. Eu não sei o que está acontecendo comigo, depois de sentir tudo o que senti, acho que acabei mudando. Meus sentimentos estão acentuados e as oscilações de humor estão cada vez mais constantes. Eu não estou conseguindo controlar minhas emoções!
            - Então é por isso que você não quer falar o que sentiu!
            - Vi muitas coisas que me fizeram perceber que eu estava errada.
            - Precisamos prosseguir. Temos muito que fazer enquanto você está aqui!
            - É claro...
            - Vamos?

            Alex estendeu a mão para que eu levantasse com mais facilidade... A confiança que eu adquiri nele era surpreendente. Eu o conhecia há tão pouco tempo, mas já poderia dizer que ele tinha me roubado uma confiança que não se explica...
            A caminhada duraria três dias – três longos dias –, mas era preciso caminhar para que chegássemos ao Castelo do Sol e ele também queria que eu conhecesse sua terra natal. O primeiro dia de caminhada foi no dia em que cheguei à encantadora Terra Norte – Solaris. A noite chegou rapidamente, paramos e a conversa prosseguiu.
           
            - Descanse Princesa, eu farei a guarda enquanto você dorme.
            - Como assim?
            - Apenas durma Princesa.
            - Você esta enganado. Eu não sou uma Princesa... E por que você não vai dormir?
            - Esqueceu que eu sou um Príncipe Lunar?
            - E daí. Esqueceu que eu não sou uma Princesa?
            - Ah, meu Deus!
           
            Ele já estava enfurecido com meu jeito peculiar de ser. Alex só queria que eu fechasse os olhos e calasse a boca, era só isso. Mais nada! Eu tinha algumas dúvidas e muitas curiosidades a respeito de Solaris. Resolvi parar de incomodar, deixei as perguntas de lado e adormeci.
            Dormimos ao ar livre, pois onde estávamos não tinha nenhuma casa ou qualquer lugar que pudéssemos posar. A grama era fria e a noite era agradável.  
            Ao adormecer entrei diretamente em um sonho que eu dizia ser impossível de acontecer. Eu estava em uma cidade muito bonita e de aparência calma, o único problema realmente era a Guerra que tinha se estabelecido por lá. Eu passava por pessoas na rua e enxergava em seus olhos lágrimas de desespero. O fogo tomava conta do lugar. O medo era uma coisa comum entre todos, até mesmo em mim. As árvores queimavam e a cerração da noite tomava conta do lugar. Foi quando surgiu do meio da neblina a sombra de um homem muito alto que se dirigia a mim. Eu não sabia o que fazer e não podia fugir. Ele olhou em meus olhos e falou algo em uma língua que eu não conhecia. – Iris volts iun grown levistn now – Foi tudo o que eu consegui entender. Acordei aos gritos... O sol estava nascendo e Alex estava dormindo, mas ele logo acordou ao ouvir meu escândalo pela manhã.

            - O que aconteceu, Princesa?
            - Eu preciso ir embora... Agora! Anda logo garoto, levanta. Eu preciso de ajuda. Não posso mais ficar aqui...
            - E como eu posso te ajudar se eu não sei o que está acontecendo contigo?
            - Ah, meu Deus! Ah, meu Deus!

            Eu caminhava de um lado para o outro. Alex não entendia o que se passava em minha mente. Ele fez de tudo para tentar compreender. Perguntou, mas eu não respondi nada. Eu gritava e ele tentava me acalmar. Meus batimentos cardíacos aceleraram, foi quando ele segurou firme meu braço, me deixou junto ao seu corpo e olhou fixamente em meus olhos. Minha respiração estava ofegante.

            - Para com essa histeria. Senta! E pode começar a falar o que você sonhou...
            - Como você sabe que tudo isso é por causa de um sonho?
            - Por que mais você estaria gritando feito uma condenada?
            - Tudo bem...

            O Príncipe Lunar ficou espantado quando contei para ele tudo o que tinha sonhado. A riqueza de detalhes que lhe descrevi o deixou perplexo. Seus olhos reluziam por si só. O medo ficou estampado em seu rosto. A preocupação comigo era transmitida de forma pura e transparente. Nós estávamos sentados no chão e ao terminar de narrar os fatos Alex se levantou imediatamente.
           
            - Não pode ser!
            - Alex?
            - O que ele disse?
            - Como assim?
            - Ele não iria aparecer em seus sonhos só por aparecer. O que ele disse?
            - Eu não sei... Acho que foi “Iris volts iun grown levistn now”. Mas o que isso quer dizer?
            - “Fique ou a Guerra vai começar”
            - Ele também disse: “Urts virks noin”
            - “Agora você é minha prisioneira”.
            - E agora Alex?
            - Temos que continuar nossa caminhada imediatamente.
            Seguimos em frente. Naquela noite Alex não me deixara dormir, a caminhada deveria prosseguir imediatamente e o mais rápido possível. Paramos em apenas um lugar para fazer uma simples refeição, nada de variedades nem de sabores, apenas uma sopa, que mais parecia uma baba de monstro roxa e gosmenta. Aquilo foi horrível.
            Ao por do sol do terceiro e último dia de caminhada chegamos ao castelo. Os guardas trancavam o portão principal e ao verem o Príncipe Lunar, logo abriram passagem. Alex havia me dito que a Rainha Anna não poderia nos receber naquela noite por estar “discutindo relações de negócios” entre Solaris e o Planeta Azul, logo em seguida ele pediu que Margarida – a camareira – me levasse a meu quarto. Ela não falava a minha língua, isso evitaria que eu fizesse perguntas impertinentes. Na Terra Norte o estranho dialeto usado por eles denominava-se Solariano, e era muito difícil de uma humana como eu aprender.
            Passei a noite sozinha num enorme quarto com uma cama gigantesca e um admirável guarda-roupa com cerca de cinquenta vestidos. Adormeci lentamente enquanto via pela janela a lua cheia que brilhava no céu. Naquela noite eu não sonhara com absolutamente nada.
            Na manhã seguinte o próprio Alex viera me acordar. Achei muito delicado de sua parte, mas estranhei o jeito como ele me acordou. Ele estava deitado ao meu lado na cama. Como em todas as manhãs abri meus olhos muito devagar e ao enxergar Alex deitado ao meu lado não me assustei – estranho – apenas disse:
            - Bom dia Príncipe! 
            Mais nada. Ele levantou, deu a volta na cama, me deu a mão para levantar, mas o cansaço era tão grande que eu só conseguia sentar na beirada do leito. Ele deu uma risada da minha cara amassada e dos meus resmungos que nem eu entendia, ele era tão educado que chegou ao ponto de colocar os sapatos nos meus pés. Eu tinha dormido com a roupa que cheguei então não houve trabalho algum para me vestir. Após estar com os pés calçados e sentada na cama ele me levantou dizendo assim:
            - Vem Princesa. Você precisa comer alguma coisa...
            Fomos até o salão onde estava servido o café da manhã. Alex comentou algumas coisas comigo, uma delas foi o jeito “fofo” que eu dormia. Ele me falou também que Solaris estava passando por muitas coisas. Prosseguimos na curta conversa de café da manhã. Saímos da mesa e ele me levou para o jardim real onde conversamos bastante. Alex me chamou muitas vezes de Princesa e eu não entendia o porquê.
           
            - Alex...
            - Diga, Princesa!
            - Logo quando nos conhecemos você mencionou que a cada três ciclos completos do sol um Príncipe Lunar vai até a Terra para buscar a luz que deixará seu planeta em harmonia durante os próximos três ciclos, certo?
            - Certo!
            - E o que são esses três ciclos completos do sol?
            - São três meses, Princesa!
            - E o que é um Príncipe Lunar?
            - É todo o jovem que tem o talento de manejar a luz desde pequeno. Depois dos 16 anos ele tem duas escolhas, ou a família o deserda para que ele fique responsável por si, ou ele escolhe morar no castelo com a Rainha e fazer parte de seu exército.
            - E quantos anos você tem?
            - Dezoito...
            - E qual é o nome do homem que visitou o meu sonho?
            - Ele é todo o mal de Solaris, ele é toda a sombra e escuridão. O seu nome, apenas algumas pessoas sabem, mas fazem questão de não dizer e não espalhar para ninguém.
            - Nossa... Tudo bem, eu nem queria saber mesmo o nome desse cara!
            - Mais alguma dúvida, Princesa?
            - Sim, por que você não dorme à noite?
            - São raras as noites em que nós Príncipes podemos e conseguimos dormir. Nós somos treinados para passar a noite acordados. É a missão do Príncipe Lunar, você tem que se manter acordado para poder reverenciar a lua. Ela é como se fosse nossa mãe, é ela quem recarrega nossas energias e nos dá força para prosseguir a caminhada da vida. Nós só conseguimos dormir quando o sol começa a nascer.
            - Puxa! Eu não sabia que era assim...
            - Você ainda tem muito que aprender sobre nós, Princesa!
            - Mais uma coisa, por que me você chama de Princesa?
            - Isso eu não posso falar... A Rainha vai lhe explicar! Falando nela, ela vai lhe receber hoje. Daqui à uma hora...

            Eu fiquei pasma ao saber que em uma hora a Rainha iria me receber. Alex ria de mim pelo simples fato de que eu estava suja, mal vestida e desarrumada para encontrar a Rainha. Ele dizia que ela não se importaria, até por termos chegado de viajem ontem, mas mesmo assim eu fiz questão de trocar de roupa. Margarida conseguiu um vestido maravilhoso para mim. A Rainha Anna me recebeu pontualmente às onze horas da manhã.

            - Minha querida, que bom que você está aqui... Alex me falou muito a seu respeito... Venha comigo até a sala de negócios, lá conversaremos em particular e lhe explicarei muitas coisas!
            - Sim, Majestade.

            Caminhamos em silêncio até chegarmos à sala de negócios. Subimos e descemos escadas. Passamos por um enorme corredor com muitas portas, entramos numa delas que nos levou até outro corredor com uma grande porta no final. Chegamos na sala, sentamos e a conversa começou.

            - Me desculpe o atrevimento, mas se Vossa Majestade permitir gostaria de lhe fazer algumas perguntas que Alex não conseguiu me responder...
            - Sinta-se a vontade, Princesa!
            - Por que me chamam de Princesa?
            - Você é a Princesa da Terra Azul! Você, além de guardiã do portal, é a Princesa que nos salvará de Otos.
            - Quem é esse?
            - O homem alto, de cabelos longos e negros que visitou seus sonhos... Se você não tivesse vindo nós estaríamos perdidos...
            - Me perdoe, mas eu não posso ser tudo isso que a senhora disse.
            - Mas você é. E deve cumprir sua missão. Otos quer destruir Solaris. Por isso trancou Alex no Planeta Azul, o que ele não sabia é que você estaria lá. Ele vai destruir o Planeta para acabar com a luz de Solaris. Daqui a seis ciclos completos do sol, ele lançará uma chama que fará com que o planeta se decomponha em seis segundos. Se o Planeta Azul for destruído nós não teremos como buscar o raio de Sol que mantém a vida em Solaris. Assim a escuridão tomará conta de nosso planeta e Otos vai se tornar Rei fazendo com que o mal acabe sendo o principal sentimento de Solaris. Terra Norte será conhecida pela escuridão e tristeza!
            - E o que a senhora acha que eu posso fazer?
            - Você tem um poder que não imagina, criança... Suas forças são maiores do que meu exército. Só você pode derrotar Otos.
            - Isso é impossível, Majestade.
            - Não. Isso é real! 

            Uma longa pausa tomou conta do lugar. Ela se levantou e encaminhou-se para a porta. Levantei, mas eu ainda tinha uma dúvida.

            - Majestade, o que é o Planeta Azul?
            - Nada mais, nada menos do que a Terra.

            Saímos da sala e fomos ao encontro de Alex. A volta foi silenciosa e angustiante... Eu era uma Princesa e todos acreditavam em mim, menos eu! Chegamos no salão principal e Alex nos esperava andando de um lado para o outro da sala. Eu e a Rainha Anna paramos em sua frente, ele olhou para ela e fez reverência. Ela apenas pediu para que ele cuidasse de mim com sua própria vida e que ele deveria me treinar porque agora eu já estava ciente da situação e que tudo estava explicado.
            Alex me levou para o campo de treinamento. Durante uma semana ele mesmo me treinou para o combate que eu enfrentaria com Otos. O treinamento no primeiro dia foi de concentração, no segundo dia passamos para as armas – ele disse que as minhas armas eram o arco e flecha, não entendi o porquê, ele tentou explicar dizendo que eram os meus poderes que controlavam a flecha – no último dia juntamos os dois ensinamentos. As armas e a concentração deveriam andar juntas, sempre.
           
            - O único jeito de derrotar Otos é com a flecha. Amanhã partiremos até as montanhas onde encontraremos Elly, ela nos levará até O Castelo das Sombras. Você deve acertar a flecha dourada no coração de Otos, assim ele ficará imobilizado, nós o levaremos para o Castelo de Vidro onde as ninfas vivem, depois que as ninfas retirarem os poderes de Otos elas o levarão para a esfera inferior onde não se lembrará de quem foi nessa existência de Solaris.
            - E quando eu posso voltar?
            - Você já pensou em ficar?
            - Isso seria impossível Alex.
            - E por quê?
            - Eu tenho uma vida na Terra. Imagine o estado de meus pais se eu não voltasse mais? Eu fui para um enterro, mas na verdade quem foi enterrada fui eu.
            - Acalme-se...
            - Quando partiremos para a batalha?
            - Amanhã à noite.

            O dia da partida foi o dia mais angustiante da história da minha vida. Derramei lágrimas, fui obrigada a comer coisas que o povo da Terra Norte dizia ser bom para a saúde de uma Princesa. O que eu não sabia é que eles estavam mentindo para mim. Na tarde antes de partirmos eu estava sentada no jardim em meio a tantas flores quando Alex chegou...

            - Creio que você precisa saber a verdade.
            - Como assim Alex?
            - Hoje à noite nós partiremos, mas você não terá de lutar com Otos.
            - Eu não entendo...
            - Você será entregue como oferenda para ele. Ouvi a Rainha Anna sussurrar atrás da porta do escritório que para Otos não destruir Solaris e o Planeta Azul ela teria que entregar a ele uma Princesa do Planeta Azul – no caso você. Ele só pediu isso porque sabia que você estava aqui... E ela sem saber o que fazer aceitou o pedido.
            - E precisava mentir pra mim?
            - Era a única forma de você aceitar ser entregue a um monstro.
            - Eu quero ir pra casa Alex.
            - Eu sei!
            - E agora?
            - Nós vamos fazer exatamente como ela disse. Vamos derrotar Otto.
            - E se eu não conseguir...
            - Não se preocupe Princesa, eu defenderei sua vida com a minha. Nada vai acontecer com você enquanto eu estiver ao seu lado.
            - Obrigada, Alex...
            - O sol está se pondo. Temos que nos preparar para partir. Sua roupa já está lhe esperando no seu quarto. Você tem vinte minutos para se trocar...

            A roupa era de Princesa e não de combate. O aperto no peito era enorme, mas eu confiava em Alex. Eu tinha medo de que desse alguma coisa errada. Montei em um cavalo branco e Alex em outro. Ele tentou me acalmar inúmeras vezes, mas todas as suas tentativas eram em vão. Eu tinha certeza do que aconteceria, só não sabia como voltar para casa. Alex tinha me oferecido a opção de ficar e essa alternativa não saía de minha cabeça. Eu estava pensando seriamente em não voltar mais. Chegamos nas montanhas e a Deusa do Ar – Elly – nos levou até um pegasus que nos conduziu até o Castelo das Sombras. Alex me entregou a Otos e teve que ir embora...

            - Otos, deixe-me partir. Eu suplico!
            - Jamais sairá daqui. Agora você é minha prisioneira...

            Essa foi a única coisa que ele disse. O que ninguém sabia é que em baixo da longa capa que cobria meu longo vestido branco eu escondia meu arco e flecha. Otos virou de costas e foi só o tempo de puxar as armar, ele ouviu o barulho de meus movimentos e voltou-se para mim, mas já não havia mais tempo. No seu virar lancei a flecha dourada que atingiu seu coração.
            Otos caiu desfalecido e inconsciente no chão de seu abominável castelo. Saí correndo porta a fora, Alex ainda estava lá. Pulei nos seus braços, aquele foi um terno abraço de confiança – eu estava em segurança agora. Fomos juntos até onde estava Otos. Alex o carregou até a frente do palácio, o amarrou no pegasus e o mandou para as ninfas do Castelo de Vidro.
            Nós estávamos esperando o pegasus voltar para retornarmos ao Castelo do Sol. Nesse momento meu coração começou a disparar sem motivo. Alex tentou me ajudar, mas não havia nada que ele pudesse fazer. Olhei em seus olhos e o desespero bateu. Meu corpo estava se desmaterializando, eu já estava quase transparente. Tudo a minha volta começou a sumir, menos Alex. O castelo, as árvores, o vento, as cores, tudo a minha volta desapareceu. O frio tomou conta de meu corpo. Eu gritava e chamava pelo Alex, ele por mim. Eu ouvia sua voz, mas em poucos segundo ele também não estava mais lá. A volta no tempo foi brusca e de certa forma estranha. Ouvi o motor do carro arrancando, olhei para trás e meu pai recém tinha partido; eu estava sozinha e tinha que consolar uma amiga que recém tinha perdido o pai... Mas no momento da virada em que meus olhos foram passando lentamente sobre as casas da rua, não me deparei com nada. Voltei exatamente pra onde eu estava no momento em que conheci Alex.
            Caminhei novamente em direção à capela. Olhei para o cemitério. Fui até a parede onde eu tinha encontrado o portal na esperança de que ele ainda estivesse lá. Mas foi em vão. Nada era como antes. Como eu poderia saber se Alex era real ou não? Me encostei na parede do portal, e lágrimas de uma saudade grandiosa brotaram de meus olhos naquele momento, a lembrança de Alex foi tristemente revivida. Diferentemente do momento da volta em que eu não conseguia escutar as palavras de Alex, lembrei de todas como se o próprio Alex estivesse falando aquilo em meus ouvidos. Naquele instante tudo fez sentido...

            - O próximo Príncipe Lunar só pode voltar daqui a três ciclos completos do sol. Pense no sol. Calcule. O portal se abrirá onde o sol estiver a 147 milhões de quilômetros do Planeta Azul. Lembre-se disso...

            Três ciclos completos do sol. Três meses. Noventa dias. E a necessidade de saber onde o sol estaria posicionado no planeta.
            Passei horas trancada no quarto estudando esses números até descobrir onde o próximo portal se abriria. Independente do Príncipe Lunar que venha, independente do guardião, eu terei uma chance, por menor que seja, de saber se Alex é real. Daqui a três meses minha dúvida se acaba.

F I M.



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