sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Solaris - Parte II: A Passagem



            A respiração era lenta e os batimentos do meu coração eram incontroláveis. Um misto de saudade e paixão fluía de tal maneira que não se pode explicar. Sensações extraordinárias tomavam conta de mim e me fazia, de certa forma, flutuar. O tempo era imperceptível. Alguns segundos pareciam momentos eternos. Uma luz clara adentrou aquela estranha passagem por onde eu caminhava. Uma agradável brisa bateu em minha face me fazendo respirar com maior facilidade. Eu já não sentia mais o caminhar e os passos não eram mais necessários para a locomoção. As cores eram deslumbrantes e as lembranças da infância começaram a ser cada vez mais presentes. Era como um filme, todas as imagens da minha vida passavam diante de meus olhos e algumas delas me fizeram derramar profundas lágrimas de nostalgia, angústia, amor e felicidade. Aquele imenso corredor sem paredes que parecia não ter fim me revelou coisas que eu não conseguia enxergar por causa do enorme orgulho que dilatava meu ser egocêntrico. Pude rever minhas atitudes e perceber que eu agi muito errado em determinados momentos, e isso me afligiu profundamente, relembrar situações tão decepcionantes como aquelas fez com que abrisse uma enorme ferida em minha alma, uma chaga de tal tamanho que pude jurar que não se fecharia para o resto dos instantes pelos quais eu vivesse. Repensei certas atitudes. E ao rever os momentos que eu colocava no papel, sentimentos que jamais contaria para alguém, ouvindo determinas músicas que faziam meu coração bater intensamente, uma revoada de borboletas surgiu de estranha maneira e passou sobre mim. Então ouvi os sons daquele imenso lugar, a música vibrava. O som dos violinos, a orquestra, os tambores batendo, as flautas soprando, tudo me fazia sentir uma emoção de tamanha proporção que eu jamais ousei conhecer em todos os períodos da vida... Ouvi meu pai tocando seu violão, o som das cordas e a voz dele fizeram com que lágrimas caíssem de meus olhos mais uma vez, e por fim o mais belo de todos os sons, um som que vinha de dentro de mim, o som do coração. O pulsar de meu próprio peito. As batidas estavam tranquilizadas. Desta vez o som não era ouvido apenas pelo meu próprio corpo, aquele fenômeno acústico estava mil vezes mais alto que o comum. Após a doce melodia, os aromas. O cheiro de primavera era muito forte, o perfume das flores, o cheiro das frutas, tudo era fantástico, sem falar nas outras fragrâncias que o ambiente exalava e que eu não conhecia. Lentamente os perfumes e os cheiros foram cessados. E um súbito aperto no peito fez minha respiração parar ao mesmo tempo em que o coração também parou. O desmaio foi a consequência dessa parada repentina. Desfalecida e inconsciente, o desespero bateu em meu espírito. A vontade de levantar se tornou grandiosa, mas mesmo com todo o anseio aquilo se tornou impossível. E naquele instante a sensação de queda. O coração se partia em milhões de pedaços. A escuridão tomou conta do lugar. A queda sem fim me assustava. O impacto no chão foi doloroso. Quando as costas bateram no plano e a brisa mais uma vez me tocou, o coração voltou a bater e o ar regressou de modo brusco aos meus pulmões. Naquele instante, acordei.
            Eu já estava do outro lado.

Continua...

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